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[RESENHA] "Cidade de Deus Z", de Julio Pecly

Título: “Cidade de Deus Z”

Autor: Julio Pecly | Editora: Casa da Palavra

Ano: 2015 | 160 páginas | Terror, Sátira, Político

 

Sinopse: Uma carga de crack contaminada entra na favela da Cidade de Deus, e então o inesperado acontece: os usuários dessa droga alterada começam a virar zumbis. A comunidade é sitiada pela polícia e pelo Bope. Quem está dentro, não pode sair. Quem está fora, não pode entrar. A partir daí, acompanharemos os mais diversos personagens nessa trama absurdamente política e satírica.


RESENHA

 

Julio Pecly (1973-2015) foi um escritor, roteirista e diretor de cinema que viveu e cresceu na Cidade de Deus. A vivência ali lhe deu o conhecimento necessário para retratar muito bem a comunidade em sua obra. Já a sua experiência com narrativas - como diretor do premiado longa-metragem “Enchente” (2011) e roteirista na temporada de “Malhação: Conectados” (2011/2012), por exemplo - o levaram a juntar com excelência essa sua realidade com a temática de zumbis.

 

E o interessante nessa distinta junção entre favelas e zumbis é que, fazendo jus ao gênero dos mortos-vivos, sempre muito atrelado a críticas sociais desde sua origem em “A Noite dos Mortos-Vivos” (1968), “Cidade de Deus Z” sabe usar muito bem essa mistura para criar um livro simples, mas de narrativa ácida e bastante política.

 

Com uma linguagem direta, Pecly vai narrando os fatos que vão acontecendo na Cidade de Deus de uma maneira muito próxima de seus personagens, nos dando uma maior dimensão de quem eles são a partir de suas ações, e não necessariamente de seus pensamentos. Assim, temos uma narrativa em terceira pessoa muito dinâmica e cheia de ação, o que casa com o gênero de zumbis.

Entretanto, ao mesmo tempo, a galeria de personagens escolhida é muito propícia para elaborar sua trama satírica. O Secretário de Segurança do Rio de Janeiro, o traficante que comanda a Cidade de Deus, alguns aviõezinhos, um casal de jovens e um matador aposentado compõem a base da narrativa de “Cidade de Deus Z”. 

 

Assim, Pecly vai intercalando os núcleos narrativos, que ora se juntam e ora se separam, para nos dar uma dinâmica geral de como um evento apocalíptico como esse seria conduzido no caos público-administrativo que o Rio de Janeiro vivencia desde os tempos coloniais.Dessa maneira, quando chegamos ao final das 160 páginas que compõem o livro, temos um resultado bastante satisfatório. Primeiro, pois a trama não foge do subgênero que pretende abordar, logo, quem buscava apenas uma história de zumbis, se dará por satisfeito. Segundo, encontraremos uma obra muito bem narrada e dinâmica, que sabe exatamente o que quer fazer e aonde quer chegar. E, terceiro, uma narrativa cheia de críticas sociais e políticas ácidas, que nos apontam a cruel realidade de um Estado que só sabe lidar com as coisas de maneira violenta, cruel e deturpada.


ALEXANDRE CRISTIANO ☕💀

Graduado em Letras e Mestre em Ensino, com foco em Tecnologias, Diversidade e Cultura.

Amante do Terror em todas suas formas, em especial o Trash, os Slashers e os Universos Apocalípticos e Pós-Apocalípticos.

Sempre com uma xícara de café preto na mão.

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